A Alright, em parceria com a Agência Lupa, realizou a live “O papel do jornalismo local no combate à desinformação”, no dia 18 de abril, das 10h às 12h, com transmissão pelo canal do YouTube.
Entre os temas debatidos, tiveram destaque: o problema da disseminação das fake news (notícias falsas), as políticas públicas e iniciativas no combate à desinformação, os usos da Inteligência Artificial e o papel dos veículos de comunicação locais nesse contexto.
O debate contou com a participação dos convidados:
- João Brant, secretário de Políticas Digitais da SECOM da Presidência da República;
- Natália Leal, jornalista e diretora-executiva da Lupa, uma das principais referências em verificação de fatos no país;
- Marta Alencar, jornalista, professora e Fundadora da COAR Notícias;
- Marco Aurélio Jacob, publicitário, jornalista e cofundador da Gazeta do Cerrado;
- Marlise Brenol, jornalista e pesquisadora, professora e pós-doutora em Democracia Digital, foi responsável pela mediação do bate-papo.
O problema da disseminação de notícias falsas
O primeiro a participar da live foi o secretário de Políticas Digitais da SECOM da Presidência da República, João Brant. Ele destacou as consequências da desinformação para a sociedade. “Temos um problema grave que afeta democracia, direitos individuais, direitos coletivos, a capacidade de determinados atores de participar de debates públicos. Vários estudos mostram que a desinformação circula mais rápido do que as notícias verdadeiras”, explica.
A jornalista, professora e pesquisadora Marlise Brenol, que fez a mediação do debate, destacou a mudança na forma com que as pessoas buscam por notícias no meio digital.
“A gente vive uma realidade em que muitas pessoas se informam por meio de influenciadores. E muitas vezes o jornalista que vive de produzir informação, não utiliza da mesma forma esse potencial que o influenciador acaba utilizando. É um ecossistema muito complexo”, destaca.
A fundadora da COAR Notícias, uma Startup Jornalística e Educativa de Debunking e de Fact-checking, a jornalista e professora Marta Alencar, comenta que “existem muitas informações descontextualizadas e verdades alternativas, acho que é um cenário muito perigoso para a gente nas eleições de 2024, principalmente para essa questão da inteligência artificial.”
Iniciativas políticas por mais transparência
Na live, o secretário João Brant destacou a importância do trabalho desenvolvido por agências de fact-checking como a Lupa, e citou programas do governo federal que visam disponibilizar mais transparência e acesso à informação aos brasileiros.
“O governo tem um um um um repositório que chama Brasil contra fake que traz um conjunto de informações sobre notícias falsas veiculadas sobre políticas públicas. E o segundo ponto é uma discussão de transparência, o Comunica BR. Ele permite que você enxergue todo o investimento do governo federal e os diferentes programas, portanto não só financeiro. Se você entrar no Comunica BR você tem informação sobre como é que determinados programas ou ações impactam o seu município”, explica.
Marta Alencar conta que um dos tópicos que aprendeu sobre a checagem de fatos é a transparência. “A transparência de como encontramos as fontes, a transparência de como estamos produzindo aquela checagem, até mesmo sermos mais didático para os nossos colegas que atuam em redações, que de certa maneira a gente não trabalha com jornalismo declaratório, a gente trabalha além das declarações. Quando a gente trabalha com apuração, opinião é uma coisa, notícia é outra”, ressalta.
O papel das agências de verificação de fatos
A Lupa é uma agência de fact-checking ou checagem de fatos, fundada em 2015 no Brasil. O objetivo principal é combater a desinformação e as fake news. A diretora-executiva da Lupa, Natália Leal, fala sobre a metodologia de trabalho. “A gente consegue fazer o nosso trabalho de uma maneira ágil porque a gente tem um processo muito rígido de onde buscar os dados, as informações, onde identificar as informações. E a gente tem uma preocupação em não não dar oxigênio para uma informação falsa”, defende.
Usos da Inteligência Artificial: gerando informação e desinformação
Durante o bate-papo, os profissionais convidados comentaram que a Inteligência Artificial pode ser usada para facilitar o trabalho jornalístico, mas também é utilizada para produzir textos e imagens falsas ou manipuladas. Se trata da velha máxima dita pelo pelo médico e físico suíço-alemão Paracelso, no século XVI: A diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
A diretora-executiva da Lupa, Natália Leal, destacou que o uso de programas de Inteligência Artificial já ajudam a agilizar alguns processos do trabalho jornalístico. “A checagem de fatos já usa ferramentas de Inteligência Artificial desde o surgimento. Quando a gente faz uma busca de uma imagem, isso não deixa de ser uma IA. Foi uma máquina que foi ensinada a identificar que aquilo é uma imagem gerada por outra ferramenta, ou uma imagem fora de contexto. Isso já é um auxílio que a IA nos dá para fazer o nosso trabalho. Um dos principais desafios é fazer a transcrição de discursos. E hoje já tem ferramentas que fazem isso”, enfatiza.
A fundadora da Coar Notícias, Marta Alencar, destacou também o quanto as notícias falsas geradas por Inteligência Artificial visa confundir o público. “Se as pessoas, às vezes, têm dificuldade para identificar o que é uma informação de qualidade, imagina a questão da própria Inteligência Artificial, de identificar se isso foi feito por um humano ou foi feito por uma IA. Acredito que não é só a questão da Inteligência Artificial mas também a circulação de verdades alternativas. A gente tem visto muito as plataformas digitais favorecerem a questão dos algoritmos, que de alguma maneira oferecem às pessoas clicar nesse tipo de notícia, como se fosse assim ‘veja esse outro lado’, mas quando a gente vai observar o conteúdo, ele atende a um lado em si”, enfatiza.
Comunicar para a audiência local e regional
Marta destaca que o jornalismo é essencial em todas as épocas e destaca a importância do jornalismo local. “O jornalismo local conhece a realidade, conhece a linguagem da população. Por exemplo, a COAR lançou em fevereiro o Arriégua, Óia as Fake News, com a linguagem totalmente nordestina e com xilogravuras. Em menos de 10 dias a gente já lançou o ‘é caroço’ que é para a região norte. A gente compreende que para combater essa circulação de desinformação é preciso falar linguagem regional é preciso falar a linguagem local”, defende.
A fundadora da Coar fala sobre a importância da educação midiática e acredita que é preciso conscientizar a audiência sobre o financiamento de veículos locais. “Com a educação midiática eu acredito que as pessoas vão ter mais instrumentos. A gente também tem que reforçar para as pessoas, principalmente que habitam essas duas regiões [Norte e Nordeste] sobre a importância do jornalismo local porque, compreendendo a importância do jornalismo local, talvez elas financiem outros projetos pequenos no Nordeste e no norte e recebam mais informações de qualidade do que informações tendenciosas ou verdades alternativas ou informações manipuladas”, comenta.
O cofundador da Gazeta do Cerrado, o publicitário e jornalista Marco Jacob Brasil, chama a atenção para os perigos das fake news, principalmente em anos eleitorais, como é o caso de 2024. “Em todos os anos que cobrimos política, e fazemos um especial eleições, sempre abrimos um espaço especial, inclusive para checagem de notícias, porque a gente também nota que existem muitos opositores que resolvem abrir denúncias justamente em ano eleitoral para poder atingir o candidato opositor. E a gente fica com pé atrás sempre porque mesmo que for uma notícia verdadeira ou que for uma uma denúncia aberta a gente sabe que a gente vai tá podendo ser utilizado para manipulação da intenção eleitoral local”, explica.
Marco destaca ainda outros desafios que enfrenta no jornalismo local, principalmente quando se refere à busca por respostas de órgãos oficiais.. “Tem essa questão do controle da narrativa oficial, principalmente quando tem uma denúncia, uma cobrança aos setores, órgãos públicos, entidades que deveriam prestar o serviço e, às vezes, colocam uma resposta evasiva, que seria a resposta oficial, que seria uma forma de combater uma fake News. Eu entendo o jornalismo como uma ferramenta de serviço da comunidade”.
Natália Leal também destaca algumas dificuldades enfrentadas na Lupa em relação ao jornalismo local. “Neste contexto local, temos dois desafios muito grandes para os jornalistas: o primeiro é o desenvolvimento de habilidades de checagem. E também tem o desafio que é a construção da audiência, que está muito relacionada à credibilidade do veículo local.”
Assista o Replay da live!
Quer assistir a live completa sobre “O papel do jornalismo local no combate à desinformação”?
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