Mas como aproximar o jornalismo local do público, na prática?
Para fortalecer o jornalismo local, é preciso abordar pautas relevantes para o público mais próximo. Neste sentido, as assessorias de comunicação de governos desempenham um papel central para alimentar o trabalho jornalístico com informações relevantes e factuais.
Um dos desafios é conseguir regionalizar e direcionar as informações públicas, como explicou Thiago Angelo, coordenador de Mídia da secretaria de Comunicação do Estado de Minas Gerais (Secom/MG). Para ele, os profissionais que atuam em assessorias de comunicação ligadas ao poder público devem ter o cuidado de adaptar as informações para comunicadores locais.
Os veículos, por sua vez, precisam identificar qual o dialeto local para ter um discurso coerente com seu público. Para ele, a palavra-chave é coerência, independente do formato adotado por anunciantes ou jornalistas.
Angelo defendeu uma metodologia de pesquisa interna para o jornalismo local, não apenas para mensurar, mas principalmente para conhecer os públicos. As redes sociais dos veículos de comunicação são um bom termômetro para observar o engajamento e mensurar o jornalismo local. Levar em consideração a forma como as pessoas reagem a publicações, com comentários negativos ou positivos, pode ser termômetro.
Ao fazer essa análise, os jornalistas entenderão quais assuntos são mais relevantes para a audiência. Mesmo com as opiniões desfavoráveis, o jornalista consegue ampliar o poder de influência ao compreender as reações e agir em relação a elas.
“A comunicação pública precisa ser efetuada levando em consideração o critério da regionalização e a importância dos veículos locais”
Thiago Angelo – Coordenador de Mídia Secom/MG
“Não vou me engajar a anunciantes do mesmo segmento de um outro parceiro comercial, exceto se houver uma maneira de fazer isso de forma coerente. A minha audiência já me identifica com determinadas marcas. Eu não vou falar algo que não conheço ou não sei porque eu conheço o poder desta influência.”
Fabiano Brasil – Jornalista Band TV e poastreming
As transformações provocadas pela internet na dinâmica do mercado publicitário impactaram também nas carreiras dos jornalistas. O jornalista Seles Nafes, por exemplo, ao sair da grande mídia apostou na criação de um veículo local e se tornou uma marca. O desafio para Seles e muitos outros profissionais é a manutenção financeira destes empreendimentos locais.
“Manter o próprio nome em seu negócio é um modelo que vem sendo adotado por muitos jornalistas, atualmente. Nesse sentido, fui pioneiro.”
Seles Nafes – Jornalista – selesnafes.com
Jornalismo local para combater fake news
A crescente disseminação de notícias falsas por meio das redes sociais e de mensageiros populares como o Whatsapp também foi pauta na Live. O jornalismo local tornou-se um instrumento relevante e atuante no combate a fake news. Os jornalistas Fabiano e Seles relataram situações nas quais receberam contato direto do público para desmentir fake news. Ao serem mais acessíveis e próximos, os comunicadores locais viram referência para rebater boatos, como a morte de pessoas célebres, ou para alertar a respeito de distorções de fatos. Um caso recente envolveu os grandes alagamentos registrados em Porto Alegre (RS), no final de setembro de 2023.
Em meio às notícias reais, houve a propagação de imagens sem contexto, de eventos climáticos passados ou de informações distorcidas a respeito do assunto. Fabiano contou que ele teve de aprender sobre a dinâmica da cheia e do efeito dos ventos no lago Guaíba, que banha a cidade, para poder passar a informação correta e fomentar o jornalismo local de qualidade. Como havia o temor de uma enchente na cidade, as pessoas precisavam de uma informação correta para tomar as próprias decisões. Ou seja, o fato de elas procurarem o jornalista local é a demonstração prática do poder de influência – e credibilidade – destes comunicadores.
Angelo defendeu uma metodologia de pesquisa interna não apenas para mensurar, mas principalmente para conhecer os públicos. As redes sociais dos veículos de comunicação são um bom termômetro para observar o engajamento. Levar em consideração a forma como as pessoas reagem a publicações, com comentários negativos ou positivos, pode ser termômetro. Ao fazer essa análise, os jornalistas entenderão quais assuntos são mais relevantes para a audiência. Mesmo com as opiniões desfavoráveis, o jornalismo local consegue ampliar o poder de influência ao compreender as reações e agir em relação a elas.
Poder e responsabilidade da comunicação pública
Com a experiência de coordenador de Mídia da Secretaria de Comunicação Social do Estado de Minas Gerais (Secom/MG), Thiago Angelo considera fundamental que a comunicação dos governos seja realizada com a devida atenção à regionalização e às características locais. Angelo destacou o desafio que não é pequeno, aliás, no caso específico de Minas Gerais, tem o tamanho de 853 municípios.
Além de encontrar a forma adequada de se comunicar no jornalismo local, Thiago Angelo aponta a necessidade da estratégia de comunicação ser comprometida com a prestação de serviços e em ser relevante para a população, independente dos partidos políticos dos gestores.
Angelo defendeu uma metodologia de pesquisa interna não apenas para mensurar, mas principalmente para conhecer os públicos. As redes sociais dos veículos de comunicação são um bom termômetro para observar o engajamento. Levar em consideração a forma como as pessoas reagem a publicações, com comentários negativos ou positivos, pode ser termômetro.
Ao fazer essa análise, os jornalistas entenderão quais assuntos são mais relevantes para a audiência. Mesmo com as opiniões desfavoráveis, o jornalista consegue ampliar o poder de influência ao compreender as reações e agir em relação a elas.
Conheça a trajetória inspiradora dos convidados
A diversidade apresentada pelos convidados mostra os tantos brasis possíveis de serem retratados pelo jornalismo local do Oiapoque, município do Amapá, estado de Seles Nafes, ao Chuí, cidade do Rio Grande do Sul, estado de onde falou Fabiano Brasil.
A redescoberta do poder do jornalismo local, no entanto, não foi sem dor. Os dois jornalistas, assim como tantos colegas, viram os grandes veículos de mídia tradicional fecharem vagas de emprego, demitirem em massa e até encerrarem as operações. Diante do cenário, os profissionais tiveram de reinventar formas para seguir atendendo o público e trabalhando em comunicação. Fabiano e Seles optaram por criar os próprios negócios a partir da experiência como jornalistas na grande mídia.
Seles Nafes, por exemplo, trabalhou mais de 20 anos como apresentador na Rede Amazônica, afiliada da Rede Globo no Amapá. Porém, ele vinha observando as mudanças no mercado e, a partir disso, decidiu criar o próprio blog em 2013. O começo foi três anos antes da decisão de deixar a função de âncora de telejornal, em 2016. A intenção inicialmente era de veicular apenas notícias de política. Com o tempo e mais investimento, o site transformou-se no portal de notícias selesnafes.com.
Já no Rio Grande do Sul, o jornalista Fabiano Brasil fez dois movimentos: o de empreendedor e o de ser parceiro de veículos de mídia tradicional. Com o negócio próprio, Fabiano concilia a atuação em dois veículos tradicionais (Band TV e Rádio Bandeirantes) do jornalismo local e o trabalho em diferentes frentes, na própria empresa de comunicação. A F. Brasil Produções é criadora, entre outras iniciativas, dos canais de conteúdo POA Streaming e Canoas Streaming, na região metropolitana de Porto Alegre. Fabiano entende que ocupar espaços em veículos tradicionais fortalece a marca pessoal e também o negócio F. Brasil Produções, possibilitando parcerias comerciais e desenvolvimento de projetos conjuntos.