A live “Jornalismo em pauta: como a inteligência artificial potencializa o jornalismo local”, realizada no dia 29 de novembro, às 17h, no canal do YouTube da Alright, apontou um consenso: a inteligência artificial não pode mais ser negligenciada pelos jornalistas e publishers.
A nova tecnologia aponta para oportunidades em aumentar produtividade e escala, mas também ameaças em fechamento de vagas. Outro ponto de atenção foi a pasteurização dos conteúdos: a IA tende a reproduzir textos muito parecidos e neste ponto o jornalismo local, com apuração, tende a se diferenciar.
A Alright convidou para o bate-papo, o jornalista sócio-fundador do JOTA, Felipe Seligman e o editor da newsletter Farol Jornalismo e mentor do programa Acelerando Negócios Digitais do International Center For Journalists (ICFJ), Giuliander Carpes. A jornalista e sócia da Cartola Conteúdo, Marlise Brenol, realizou a mediação da live.
Inteligência Artificial como aliada do jornalismo?
Felipe Seligman, sócio fundador do Jota , avalia que essas tecnologias oferecem condições ambivalentes: “A IA é uma ameaça e uma oportunidade. Ela é inevitável. O mundo está sendo transformado por essa nova tecnologia, e ela está ficando disponível de uma maneira mais generalizada. A gente já vem tendo contato com ela a partir de equipamentos e ferramentas que a gente já usava de outras maneiras. Só que estamos lidando com uma Inteligência Artificial muito mais acessível e fácil de ser compreendida, porque permite que você converse com ela de um jeito ‘natural’. Essa é a diferença da IA generativa para a IA que já vinha sendo utilizada”, explica.
O editor da newsletter Farol Jornalismo, Giuliander Carpes, entender que a IA pode ajudar na ideação, produção e até distribuição. A newsletter escrita por Giuliander com os professores Moreno Osório (PUCRS) e Livia Vieira (UFBA) acompanhou durante o ano de 2023 o crescimento do interesse em ferramentas de inteligência artificial e automação. Na fala inicial, Carpes citou algumas ferramentas que já estão sendo utilizadas dentro das redações, para transcrição de fala em texto, extração de texto de imagem e vídeos, como a Whisper, reconhecimento óptico de caracteres, como a Google OCR software de checagem de fatos, como o Check by Meedan, produção de textos, resumos e traduções, como o chatGPT, gráfico e imagens, como o Midjourney, entre outros.
Para Felipe Seligman, a IA também pode auxiliar no trabalho do jornalista. “As empresas precisam qualificar os jornalistas a usarem a Inteligência Artificial para poderem otimizar seu trabalho, usar como suporte para gravar várias sessões ao mesmo tempo, por exemplo, e acessar depois. A gente vai conseguir desenvolver landing pages melhores, teremos ideias de pauta com base em perguntas que iremos fazer, mas sempre usando o senso crítico que é do jornalismo”, destaca.
Giuliander explicou também o conceito de “plataformização do jornalismo”, ou seja, como a produção e compartilhamento de informações na internet produzidas tanto por jornalistas quanto por meio de IA impactam na qualidade do conteúdo: “A plataformização é esse relacionamento cada vez mais próximo, digamos, de coopetição, que é cooperação por um lado e competição por outro com plataformas terceiras que não necessariamente produzem jornalismo, mas se beneficiam de alguma forma desse conteúdo. Aí o jornalismo também acaba se beneficiando ou se prejudicando por causa dessa relação”, explica.
Inteligência Artificial como inimiga do jornalismo?
Giuliander Carpes citou alguns problemas que surgem no jornalismo a partir da utilização de IA generativa como a falta de confiança, ou seja, a ferramenta pode cometer erros graves nas respostas. Outro ponto negativo é que, muitas vezes, as pessoas pensam que o Chat GPT cria textos novos. “O Chat GPT reconfigura, na verdade, conteúdo que já foi publicado na internet, então o que ele faz é pegar palavras e trechos, às vezes de reportagem e unir com outras e acaba formando lá um texto final que às vezes parece um Frankenstein completo”, acrescenta.
A falta de atribuição de fontes ao citar conteúdos é outro ponto negativo, porque corre o risco de violar direitos autorais. Giuliander citou ainda uma preocupação central para a indústria de jornalismo: a perda de controle, por parte das organizações de notícias e dos autores, sobre os próprios produtos e informações publicadas na internet. .
Felipe Seligman acredita que um dos desafios que será enfrentado pelo jornalismo é em relação aos modelos de negócio e às próprias ferramentas de busca do Google que utilizam IA para gerar textos instantâneos.
“A Inteligência Artificial vai exigir de nós uma reflexão muito grande sobre o que nos move quando a gente produz e quando a gente constrói uma empresa jornalística. Boa parte das mídias que estão nos sites hoje são movidas ainda, infelizmente, a cliques. Por mais que a gente não queira, ela é uma métrica de sucesso no mundo jornalístico. Um site é mais relevante quanto mais ele consegue mostrar que tem audiência, e a qualidade e a relevância do conteúdo obviamente traz audiência”.
Porém, com o buscador do Google utilizando modelos de linguagem generativa para responder perguntas dos usuários, em vez de indicar um link de conteúdo terceiro, essa lógica muda. “… A partir do momento em que o Google não mandar a audiência para o meu site ou qualquer ferramenta de busca, ele vai usar o meu conteúdo, mas não vai me dar mais nada em troca então agora a grande discussão dos players e dos publishers é: a partir de que momento vai valer a pena eu ser uma ferramenta que forneço o meu conteúdo para o Google de maneira otimizada para que ele use isso e melhore a capacidade de entregar um conteúdo, sem me dar nada em troca?”, destaca.[/vc_column_text][vc_column_text]
O diferencial do jornalismo local
Depois das reflexões sobre os pontos positivos e negativos da utilização de ferramentas de IA na produção de notícias, os convidados debateram sobre os possíveis diferenciais do jornalismo local, principalmente dentro da comunidade em que o veículo está inserido.
“O veículo local precisa ganhar um senso de comunidade, um senso de construção de redes, estar presente, e fazer a diferença para a sociedade num sentido mais amplo, ele precisa ser engajado naquela sociedade, e precisa ter a clareza de que ele conhece melhor do que ninguém aquela comunidade”, Felipe defende.
Outra sugestão indicada pelos convidados se refere à criação de uma normativa interna nas redações, onde será definido de que forma os profissionais da comunicação vão usar as tecnologias nas rotinas de trabalho. “Dentro do Jota, falando aqui da minha experiência, construímos um grupo de trabalho e a primeira coisa desse grupo de trabalho foi falar o que pode e o que não pode ser feito com inteligência artificial.” relata Felipe.
Já Giuliander destaca que não existe jornalismo feito somente com IA: “Na nossa profissão, a gente tem a obrigação de colocar o humano no loop. O uso de IA deve ser feito junto ao ser humano colocando as questões éticas, os limites, a checagem de informações, etc”, afirma.
CHATGPT, IA, PRODUÇÃO DE CONTEÚDO E MONETIZAÇÃO DE SITES
Como a inteligência artificial dos novos chatbots generativos pode ajudar publishers a gerar mais receita com produção de conteúdo?
IA na publicidade local
E o que muda na publicidade local com o crescimento das tecnologias emergentes?
Segundo Giuliander, ela não é uma ameaça. “Quanto ao pequeno anunciante de uma cidade de interior que faz acordos diretos com o pequeno anunciante, eu não vejo muito como que essa relação pode ser abalada porque, se um meio que tem uma relação forte com aquela comunidade consegue dar o retorno para o pequeno anunciante, está tudo bem. Não vejo ele usando alguma plataforma que vá mudar o negócio dele. E eu acho que para esses players pequenos, eles podem desenvolver anúncios melhores, conteúdos melhores com ajuda da Inteligência Artificial, como landing pages. Então pode melhorar a relação entre o player e o publisher”, defende.