A percepção sobre as vantagens e tendências que levam à colaboração no jornalismo está presente nas mais atuais iniciativas e na visão de profissionais experientes no mercado. Eles indicam esse aspecto para a sobrevivência dos negócios e a inovação na área.
Nesse sentido, a colaboração foi o argumento central da live “Empreendedorismo coletivo e criativo: como criar redes de colaboração entre veículos de jornalismo local”, realizada pela Alright, na terça-feira, 18 de junho, com transmissão pelo YouTube.
O evento teve a condução da professora e pesquisadora Marlise Viegas Brenol e contou com a participação dos jornalistas Daniel Bramatti (Estadão Verifica), Jayanne Rodrigues (Rede Cajueira) e Maiá Menezes (vice-presidente da Abraji). Todos foram recepcionados pela Líder Comercial da Alright, Natália Pandolfo, representando o time e o fundador da empresa, Domingos Secco, que destacou a proposta de valor junto aos Oásis de Notícias para enfrentar a problemática dos desertos de informação no país.
Colaboração e exemplos das redações
Durante a live, os convidados abordaram a importância da colaboração entre veículos de jornalismo e os reflexos dessa prática na rotina das redações. A discussão girou em torno da pergunta: é possível conciliar concorrência e colaboração no jornalismo?
“Quando falamos em jornalismo colaborativo hoje, falamos da colaboração entre os próprios jornalistas e os veículos de mídia nas estratégias empresariais. Podemos citar o Projeto Comprova para verificação de fake news, o Consórcio de Imprensa para dados de Covid-19 e reportagens investigativas envolvendo mais de um veículo, para ficar só em três exemplos”, disse Marlise na provocação inicial ao debate.
Aspectos sobre as rotinas produtivas, geração de receita, desafios enfrentados pelo jornalismo local e regional, além de experiências exitosas, foram aspectos elencados pelos convidados.
Daniel Bramatti relembrou o caso do Consórcio de Veículos de Imprensa, criado no auge da pandemia de Covid-19. A necessidade de garantir uma apuração séria, confiável e ágil para alertar a população com responsabilidade, foi um entendimento geral dos veículos que colaboraram nessa ação.
“Foi muito importante e uma ruptura muito interessante a formação do consórcio de veículos de imprensa durante a pandemia. E foi uma reação a uma tentativa do governo de esconder os dados e as informações relevantes para a população, sobre os números de casos positivos e de mortalidade de Covid-19”, disse Daniel.
Jayanne Rodrigues compartilhou um exemplo do Nordeste do país, onde a Rede Cajueira mantém uma newsletter semanal com curadoria de conteúdo de jornalismo independente dos nove estados da região, um banco de fontes e um mapa do jornalismo independente nordestino. A iniciativa tem a colaboração no seu DNA, enfrentando desafios para descentralizar as narrativas jornalísticas.
“O jornalismo independente tem o poder de experimentação. Você pode experimentar formatos e projetos sem tanta burocracia, de forma mais ágil. Com a colaboração que temos na Cajueira, já conseguimos dar mais um passo à frente pensando em colaboração e criatividade”, destacou Jayanne.
Maiá Menezes ressaltou a importância da colaboração nos ambientes corporativos, alertando contra o protagonismo individual no jornalismo. “Na contramão da necessidade de colaboração, o que vejo nos grandes veículos, é uma tentativa de criar um certo ‘ar de celebridade’ em torno de quem apura a informação. Isso estimula a concorrência, porque os jornalistas sempre estiveram atrás de dar a notícia e o furo antes, de ser relevante em uma decisão, de ser protagonista. A gente observa isso nos principais veículos de comunicação que vivem de notícia”, alertou Maiá.
Colaboração nas tendências de mercado e para sobrevivência dos negócios
Outra parte significativa do debate foi dedicada aos modelos de financiamento colaborativo. Comentários durante a transmissão expressaram a preocupação com a sustentabilidade financeira, especialmente para veículos de jornalismo local e regional. A diversificação de receita, participação em editais, divisão de custos, contato com grandes redações para desenvolver localidades menores, troca de experiências em eventos e treinamentos, além do investimento em conhecimento técnico para o empreendedorismo jornalístico, foram pontos levantados como soluções.
Daniel Bramatti sugeriu que a falta de recursos deve ser um incentivo à colaboração. “Por exemplo: se você tem uma redação pequena para cobrir alguns eventos, não seria o caso de ter aliança com outro veículo? Na crise climática no Rio Grande do Sul, não seria bacana ao invés de falar só do problema, dar ideia de quais as diferenças entre cada cidade atingida e mostrar projetos de um lugar que não tem em outro? São exemplos de ações que talvez você não consiga apurar sozinho”, disse Daniel.
Os convidados também abordaram o impacto da Inteligência Artificial (IA) no jornalismo. Jayanne Rodrigues afirmou que a IA representa uma oportunidade para destacar o diferencial do bom jornalismo.
“O que vai diferenciar nosso conteúdo vai ser a nossa apuração. No interior, com a proximidade e por estar no seu território, você saberá o que está falando. São pontos de vista diversificados que precisam acontecer, já que as mudanças com a Inteligência Artificial já estão aí. Mas o jornalismo não vai deixar de existir”, comentou.
Maiá Menezes completou o comentário, apontando os desafios destes novos cenários. “A questão da Inteligência Artificial, do aumento da desinformação, das verdades e direitos individuais. Acho que a função dessa curadoria e como o conteúdo vai ser divulgado, só amplia os nossos desafios como profissionais”, disse Maiá.
A live da Alright demonstrou que é possível conciliar concorrência e colaboração no jornalismo, evidenciando que a cooperação entre veículos pode ser uma estratégia eficaz para enfrentar os desafios atuais e futuros do setor. A discussão trouxe à tona a importância de compartilhar recursos, diversificar fontes de receita e utilizar novas tecnologias para fortalecer o jornalismo local.
A colaboração, além de reduzir custos e aumentar a eficiência, pode ser uma resposta poderosa à crise de recursos, promovendo inovação e sustentabilidade no campo jornalístico.
A reprise do debate já está disponível. Assista agora.
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