Profissionais que representam uma parcela importante do Jornalismo Local do Rio Grande do Sul (RS) estiveram na live “A Cobertura Jornalística em Desastres Ambientais: a força do jornalismo local na emergência climática do RS” nesta sexta-feira (10/05) transmitida pelo YouTube da Alright.
Com 10 convidados e a condução do fundador da Alright, Domingos Secco, a transmissão se configura como registro histórico desse momento desafiador que vive o estado e trouxe reflexões valiosas para jornalistas, comunicadores, produtores de conteúdo de diversas comunidades e a sociedade em geral.
Entre pontos relatados, destacaram-se as mudanças nas rotinas de cada veículo, os desafios impostos pela prioridade dada ao tema, especialmente desde o início do mês de maio, o valor do jornalismo local como prestação de serviços à população e o papel das diferentes redações de aproximar a informação entre órgãos oficiais e os cidadãos das cidades atingidas.
Estiveram presentes como convidados:
Fabiana Sparremberger – do Grupo Diário de Santa Maria
Ramão Freitas – do Grupo Oceano
Rogério Bernardes – do Portal Litoralmania
Heloisa Corrêa – do Portal Gaz
Victória Renner e Rodrigo Vicente – Acústica FM
Ariel Griffante – do Portal Leouve
José Renato Ribeiro – do Portal OCorreio
Daniel Heck – do Jornal Folha do Mate e Rádio Terra FM
Nícolas Valer Horn – da Rádio Independente
Vitor Necchi – SECOM RS
Conheça o perfil completo dos convidados
Responsabilidades e a dimensão da emergência climática
Mesmo com experiências anteriores na cobertura de eventos climáticos e enchentes, os jornalistas afirmam que a dimensão do que está ocorrendo em 2024 é algo jamais visto na história.
Ao acompanhar os primeiros boletins meteorológicos e o que estava acontecendo nas cidades, Nícolas Horn, do Grupo Independente, contou que a tensão foi aumentando e isso exigiu uma dedicação maior das equipes logo no início desses eventos.
“O momento mais desafiador e tenso de todos foi quando eu estava apresentando o programa e chegavam mais de 100 mensagens de pessoas precisando de resgate e não existia helicóptero”, descreveu o jornalista. As dificuldades encontradas para verificação das medidas corretas da altura das águas e do clima impactaram o trabalho que precisou estar ligado diretamente com órgãos como a Defesa Civil e os responsáveis pelos mapeamentos geográficos.
Tudo isso inicialmente sem internet, sem energia elétrica e contando apenas com o rádio para realização de comunicações.
Acompanhando a chuva histórica na cidade de Santa Maria, o Grupo Diário realiza a cobertura por meio dos veículos de rádio, TV, impresso e digital. A transmissão ao vivo pelo YouTube começou ainda na passagem de um tornado dias antes de as cheias atingirem com grande volume diversas cidades do RS. Isso alertou a equipe sobre os dias que viriam.
“No 1º de maio foi o momento mais tenso vivenciado por toda a redação. Nosso repórter, o Gilberto Ferreira, estava ao vivo, e ele disse ‘os bombeiros estão gritando para a gente descer porque mais uma parte do morro vai vir abaixo”. A descrição foi feita pela Diretora de Jornalismo do Grupo Diário, Fabiana Sparremberger, que relembrou o silêncio da redação neste exato dia.
Ela diz que os acontecimentos recentes, somados a outras coberturas históricas na cidade de Santa Maria como o caso da Boate Kiss, fazem entender a importância social do Jornalismo Local. “Entendemos porque estamos nesses lugares, nessas comunidades e o quanto somos relevantes”.
Relação com a comunicação de órgãos oficiais
Desde o dia 03 de maio, quando uma rede de veículos jornalísticos locais lançou o “Manifesto de Solidariedade e Ajuda ao Rio Grande do Sul”, uma página é atualizada durante todo o dia com curadoria de informações dos veículos jornalísticos locais e orientações para doações. Na página há também o link para o Pix divulgado pelo Governo do Estado do RS, além do direcionamento para campanhas mais próximas das cidades e prefeituras (acompanhe em #AjudaRS).
Presente na live, Vitor Necchi, da Secretaria de Comunicação Social/SECOM RS, explicou o trabalho realizado diretamente nas operações do estado, com muita atenção para alertas de segurança, além dos cuidados contra aplicação de golpes e contra fake news. Vitor abordou a regionalização dos esforços nessas operações e disse que “os problemas não são os mesmos para todo mundo. Nesse sentido, a resposta do estado também é regionalizada. E quando são insuficientes, é necessário que haja toda uma logística”.
Vitor tratou ainda a respeito de polêmicas envolvendo os pedidos de Pix para o Governo e a destinação dos recursos. “Para esses recursos entrarem diretamente no caixa do Governo, eles teriam que, por exemplo, passar por decreto, ir para Assembleia Legislativa e uma série de questões, e essa destinação exige agilidade”. Os recursos doados pela sociedade para o Pix divulgado pelo Governo Estadual seguem para uma associação com Comitê Gestor, tendo como parte da composição entidades da Sociedade Civil, que serão os responsáveis, em conjunto, por decidir onde os recursos serão aplicados seguindo um protocolo de processos.
No sentido da verificação de informações dos órgãos oficiais, a imprensa local se destaca como a ponte confiável para tranquilizar a população e na dedicação para barrar a circulação de conteúdos desinformativos.
Daniel Heck, do Jornal Folha do Mate e Rádio Terra FM, define o papel do jornalismo local como “ponto de esperança”. Ele relatou as mudanças na programação e da aproximação do público com a redação nos pedidos de salvamento. Para que isso fosse feito com segurança, a orientação para as equipes foi de atuação conjunta para fazer com que os resgates e a localização das pessoas fossem feitas da forma mais rápida possível.
“As pessoas enviavam a localização pedindo resgate. Junto com a Defesa Civil e a Prefeitura da cidade, nós da imprensa, organizamos os pontos onde tinham resgate. Além de informarmos, fomos ponto centralizador”, conta Daniel sobre o início dessa cobertura em que chegou a atender a população até por meio de suas redes sociais pessoais.
Desgaste emocional
Cada dia tem sido um novo desafio para os jornalistas e o aprendizado do momento se dá na prática e na divisão dos conhecimentos entre os mais novos e mais experientes membros das equipes. Além disso, as preocupações com as informações e os próprios aspectos pessoais de cada pessoa não ficam de fora do dia a dia.
A editora-executiva do Portal Gaz, Heloisa Corrêa, contou que essa cobertura está marcada pela relação entre o trabalho e a vida de cada um que se desloca diariamente para as redações, carregando as marcas de serem atingidos diretamente pelos fatos. “Esse desgaste emocional faz parte da cobertura. A gente fica preocupado não só em informar, mas com aquele amigo e colega”.
A cobertura tem se prolongado diante da proporção dos eventos extremos e no aumento dos alertas que exigem dos jornalistas a explicação detalhada dos fenômenos e de como ele afeta as regiões e impactam a realidade das pessoas. Com a quantidade de informações, entram desafios de logística, de organização das pautas, de checagem de fatos e do controle para informar a audiência de forma rápida e segura.
Segundo Ariel Griffante, do Portal Leouve, “a dificuldade de conseguir informação e de checagem foi muito grande. A rádio tem a necessidade do imediatismo e transpomos para o portal em um menor tempo possível”.
Os aspectos logísticos se encontraram com a capacidade de resiliência das equipes em meio aos bloqueios de estradas, trânsito interrompido e os deslizamentos em muitos lugares. Dessa forma, a força das comunidades e do Jornalismo Local foi tomando destaque no diálogo direto entre redações e o público. “A gente estava do lado da pessoa que buscava água, de quem estava na fila do posto para abastecer. A gente usa a expressão do cheiro da notícia que é estar no local do fato, junto com as pessoas”, disse José Renato Ribeiro, do Portal OCorreio.
Outro aspecto diz respeito às regiões litorâneas que estão sendo local de abrigo para inúmeros refugiados das enchentes. A relação dessas cidades com quem chega abalado pelos acontecimentos, exige também dos jornalistas uma postura de preparo e empatia. “Aumentou muito a população aqui, é praticamente uma população de veraneio. Impacta em algumas redes, principalmente na rede hospitalar. A situação é melhor que em outras regiões, mas estamos em alerta porque a previsão do tempo não é nada boa”, contou Rogério Bernardes do Portal Litoralmania.
A força do Jornalismo Local
O curso das águas para a zona sul do estado está começando a afetar diretamente algumas cidades. Para lidar com essa situação, é crucial que haja mobilização, reforço das doações e aprendizado com exemplos anteriores para evitar agravamentos e perdas.
No entanto, um problema emergente é a disseminação de fake news, que pode impactar negativamente as pessoas. Portanto, é necessário combater a desinformação enquanto se busca soluções eficazes para a crise.
“A gente enfrenta alguns problemas de muita informação sem credibilidade, pelos oportunistas. Perdemos tempo para esclarecer algumas situações e isso faz com que tenhamos mais atenção”, disse Ramão Freitas do Grupo Oceano.
Na região, ele conta que o Grupo já se prepara para enfrentar a dinâmica das águas e os prejuízos do volume das enchentes. Para isso, o Oceano conta com a instalação de mais um estúdio no centro da cidade e com ações de prevenção junto às equipes que estão nas ruas realizando a programação.
Cada experiência vivida pelos colegas de profissão e que estão circulando nas comunidades digitais, nos grupos de relacionamentos do mercado e nas iniciativas solidárias, são inspiradoras. São a comprovação, na prática, da força que o Jornalismo Local tem diante da complexidade de fazer comunicação na atualidade e deve reverberar na promoção de políticas públicas digitais e no avanço de processos de apoio para os veículos.
Na avaliação de Rodrigo Vicente, da Acústica FM, a força do local fica muito evidente. “É difícil estar na cidade e na região e não se envolver com as notícias. Estamos fazendo isso todos os dias, fazemos jornalismo, estamos no local. Com esse grupo aqui temos fortalecido o laço entre os próprios veículos de comunicação”.
A transmissão da live “A Cobertura Jornalística em Desastres Ambientais: a força do jornalismo local na emergência climática do RS” durou cerca de 1 hora e meia e deixou a certeza de que o caminho trilhado pelo jornalismo local nos eventos climáticos extremos tem um imenso valor social e já é histórico para os profissionais e para toda a audiência que acompanha esse trabalho.
Domingos Secco, fundador da Alright, concluiu a live com agradecimento a todos os convidados deste encontro em reconhecimento ao trabalho do Jornalismo Local e explicou a mobilização da Alright junto aos governos, anunciantes e as plataformas. “É um absurdo que vocês que produzem localmente conteúdo importante para o Brasil inteiro, não apareçam quando alguém acessa e é encaminhado a conteúdo de terceiros que estão há quilômetros de distância”. Secco falou o quanto se mostram necessárias e urgentes ações de distinção em relação à origem das fontes de conteúdos produzidos e que se dê visibilidade às produções locais.
Para mais detalhes das participações e conferir a transmissão completa, é só ir no link abaixo.